sexta-feira, 29 de abril de 2016

Carta aberta ao meu filho, o primeiro


Sim, o primeiro. E não sei se terei mais.
A questão é que é muito sofrimento... para uma criança só.
Cansa, viu?
E tem horas que nem parece que você está aqui... a barriga parece pequena... ou parece a mesma barriga de antes.
Sua mãe sempre foi gorda, sabe? Às vezes uma gorda bonitinha, em outras, uma gorda feinha. Mas sempre gorda.
Hoje, o mundo parece estar mais aberto a esse tipo de “biotipo”. Mas saiba que eu já enfrentei uns bons bullying por isso.
Era bem triste ser gorda. Aliás, é até hoje. Mas a gente vai relevando, tentando superar, tentando se encontrar...
Não é ruim ser gordo. Se você assim for, será bem feliz também. O problema são as recaídas. Tem dia, filho, que é difícil. Você se sente um lixo.

E é por isso que eu sempre fui uma garota romântica, que só pensava em suas paixões. Sonhava com o primeiro beijo, com um casamento... Porque isso para mim, eu já sabia: não seria uma tarefa fácil!
Mas quando seu pai surgiu na minha vida eu já não pensava mais assim não. Estava bem calejada já com as pedras que a vida havia me tacado. Mas alguma coisa fez surgir novamente aquela garotinha frágil, indefesa, solitária...

Solitária = Solidão.

Talvez tenha sido o amor, a carência, ou o simples fato de seu pai não ligar muito para mim às vezes. O que nos faz retornar a segunda opção... Carência!
Lembro-me, em Ribeirão, dia seguinte ao “Despertar da força”, no café-da-manhã do hotel em que nos hospedamos, havia eu comido já dois pães... Mas eu tenho isso, como pelo sabor... e o pão estava gostoso! Pedi para seu pai pegar mais um pão para mim. E se você pudesse ver a cara que ele fez... Sim, eu também teria pensado duas vezes antes de pedir! Eu já estava grávida de você, era comecinho... Comecinho de tudo: de romance, de gravidez. E ele não teve a nobreza de pegar para mim. Dá para perceber a partir daí, que alguma coisa não estava se saindo bem para gente. Eu só queria ser cuidada, filho. Ser protegida. Acho que não é pedir demais... Mas a vida tem dessas coisas, e se choro hoje por me lembrar desses momentos, amanhã sorriu por coisas boas que hei de me lembrar também.

Mas voltemos a falar de você, meu lindo. Meu fofo. Meu “tchuco-tchuco”. Você, meu filho, é novidade para mim. Tem hora que sinto você mexer... e mexer... Coisa linda. E de repente você fica quieto... por um boooom tempo.
E como dói! Aaaiii!!! Dói para se sentar, dói para se levantar, sinto meus órgãos todos se esmagando quando abaixo para pegar algum objeto que venha a cair no chão. Terrível isso! E os gases??? Nossa... sinto que cada gás é uma vida que se vai... (rs)
Não venha me dizer lá na frente que eu não sofri por você, ou que eu não lhe amo, hein! Não sei se serei uma boa mãe, se saberei te dar educação, bons modos... Se eu, como professora que sou, serei uma boa professora a ti, te cobrarei tarefas, boas notas... Se seremos cúmplices, amigos, mãe e filho... Pessoas felizes só por estarem juntas uma da outra. Não sei de nada disso. Mas espero de coração que sejamos tuuuudo isso!
Porque fracassei em muitas coisas, filho. Mas não gostaria de falhar como sua mãe. Por isso, se abra a mim sempre que puder. Diga o que está acontecendo com você, sempre que puder. Não fique com medo, com dúvidas, incertezas, inseguranças. Eu prometo que vou tentar te ajudar. Posso não conseguir, mas eu tentarei.

Porque um elo aqui já está criado entre nós. Porque um amor entre mãe e filho costuma durar bastante. Porque parte da minha vida já circula pela sua. J

Beijos da mamãe,


M. 

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