domingo, 30 de janeiro de 2011

Contos, Romances e Peripécias: “A Ex-Amiga”

No baile daquela noite, Magda sabia que por mais que seu vestido fosse bonito, Terezinha daria um jeito de se sobressair mais do que ela. A ex-amiga era muito invejosa e desde a briga na 8ª série, nunca mais trocaram uma sílaba se quer. Uns diziam que a discussão foi por causa do Matheus, alguns que foi por causa da última esfiha da cantina, outros que foi por causa da “Barbie sandália vermelha top fashion”.  Mas ninguém suspeitava certo sobre o que havia rompido aquela amizade naquela manhã de março.
Terezinha estava de esmalte pink no baile. Magda riu à grande quando viu a breguice da ex-amiga.
- Eu sabia que ela ia dar um jeito de chamar a atenção mais do que eu!
- Por que ela veio de vestido balonê laranja purpurina num baile de traje esporte-verão?  disse Terezinha à atual melhor amiga Verinha. “Deve estar querendo chamar a atenção...” concluíram as duas. Após as três da manhã, quando quase todos já haviam ido embora, Carlos convidou Magda para dançar. Arrependeu-se depois, pois a garota não parava de falar duma tal aí com esmalte pink.
- Você não quer ir lá em casa amanhã conhecer meus cachorros? Eles iriam gostar de você, o Teddy tem um focinho achatado...
- Na boa gata, não dá. Amanhã tenho capoeira a tarde toda e a noite campeonato de paciência com a turma da informática. Minha agenda ta lotada.
Deu um beijo no rosto de Magda e saiu quase que fugindo das garras da moça que outrora ele estava implorando para dançar coladinho.
Magda perdeu o bom moço daquela noite, perdeu as amigas novatas, o respeito dos pais e a atenção das pessoas com quem de vez em quando conversava, no ponto de ônibus, na fila do supermercado, do banco, tudo porque seu assunto se baseava somente nas últimas novidades da ex-amiga Terezinha.
- Ela tem inveja de mim. Faz de tudo pra chamar a minha atenção.
Quando concluiu a faculdade de medicina, Terezinha levou um susto ao ver seu carro novo riscado de fora a fora com as palavras “Médica de Corvo”. Do outro lado da rua, atrás duma árvore qualquer, Magda se debulhava em lágrimas enquanto o filho de três anos pedia colo.
- Ela roubou o meu homem, a minha faculdade, mas o carro não. Quieto, moleque! Quer que ela nos veja aqui?
Na delegacia as duas ficaram cara a cara.
Terezinha depôs primeiro:
 - Olha, há sete anos foi o meu carro. Depois o muro de casa, o do consultório, do sítio da minha mãe. Quando ela não tinha mais o que pichar, começou a mandar cartas me ameaçando. Ignorei. Mas daí ela tentou sequestrar meu filho.
- Louca, vadia! Eu não quero seu filho porco, nojento, não! Eu tenho um filho maravilhoso, que me ama, idolatra...
- Claro, e que preferiu ir morar com o pai a você.
- Cala a boca sua piranha de esquina, que da minha vida cuido eu! Seu Delegado quando nós éramos ainda amigas eu disse a ela que queria ser médica e casar com Otávio Belmont, um paquerinha duma prima na época. Pois essa filha duma égua roubou os meus sonhos e...
- O que? Quando disse isso? Você só falava da sua prima Rebeca. “Ah porque a Rebeca comprou uma mochila maior que a minha, porque a Rebeca não rezou o terço direito, porque a Rebeca ganhou todos os broches da vovó”. Uma verdadeira obsessão. Só parou de falar nela quando por infeliz obra do destino ela morreu doente sei lá do que.
- Foi o corvo! O corvo! O corvo que seu tio criava. Você sugeriu “porque não a assustamos?”, ela morria de medo de corvos. Mas eu não imaginava que ela ia dar aquele chilique todo. Achei que ia passar. Só que foi piorando, piorando, até que entrou em coma. E morreu. Morreu naquela manhã de março. Eu pedi a você que fossemos no cemitério quando ele tivesse vazio para pedirmos desculpas a ela. Você se recusou, me chamou de boba e disse que não sentia nenhuma dor na consciência.
- Eu não tenho dor na consciência. E essa é só mais uma estória que você conta tentando me atingir...
            A briga que tomou espaço na delegacia naquela noite mandou Terezinha para a sua casa pomposa e Magda para uma casa de reabilitação emocional. Depois de alguns meses o auxiliar de enfermagem veio informar à Magda que havia uma visita lhe esperando.
- Deve ser o Rafa, meu filho.
            Mas não era.
            Magda entrou pelo pátio, desceu as escadas, virou à esquerda e deu de frente para uma mesa com cadeiras em volta, na qual em uma delas jazia uma mulher sentada. Não pode acreditar.
- Você?
- Sabe o que dizem dos corvos? Que trazem maus presságios... Eu ganhei uma promoção. Serei chefe da minha área. O Otávio comprou as passagens para o cruzeiro comemorando nossos 20 anos de casados. Nosso filho semana que vem começa o curso de direito. Minha vida está perfeita! Sabe Magda, não acredito que os corvos trazem maus presságios. A Rebeca deu azar...
            Quando ia saindo, Terezinha já com os óculos escuros vestindo os olhos de quem já viu muita coisa, virou-se e arrematou:
-E também, ela e o Otávio nunca iam dar certo mesmo.


quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Um dia de Retardadice


Hoje o dia amanheceu cinza para meu cérebro cansado. Não sei se são os acúmulos de responsabilidade ou as palavras idiotas vindas de pessoas racionais. Sei que a saudade de casa, da comidinha de mãe, dos miados chatos do gato gordo, das babas da cachorra com nome de pop star, estão me deixando cada vez mais sensível. Até música sertaneja romântica está me deixando melancólica. E isso, está afetando minha falta de criatividade. Sim, falta! Porque a criatividade eu deixo para a música sertaneja romântica.
Aliás, chega a ser redundante dizer música sertaneja romântica. Quase todas as músicas sertanejas são românticas. Para meu desespero.
Enfim, estou cercada de pessoas que riem à toa.
Deixe-me explicar, meu caro Watson. Há um tempo os risos das pessoas me incomodavam. Elas riam de tudo quanto era besteira, e olha que era besteira, bobeira, retardadice, feiúra, coisa chata p/ caramba!
Ok. Passou. Comecei a me socializar como um cão domesticado.
Comecei a rir como eles. Uma alienígena no meio de seres sociáveis. Fui absorvida pela célula mãe e vivi um bom tempo num sonho cor de rosa.
Mas agora... Não sei, parece que me decepcionei novamente. E os alienígenas agora são eles. Os risos me apavoram, porque não sei distinguir se eles são risos ou gargalhadas macabras.
Estou tentando achar a resposta nas músicas sertanejas românticas. Mas elas também parecem algo alienígena.
Sei lá. Talvez seja só TPM.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Contos, Romances e Peripécias: "O Abajur da Sala de Antiguidade"

Mais um continho para vocês degustarem...

Roberto não sabia se entrava na loja naquela hora ou depois do almoço quando estaria com mais tempo. Já haviam alguns meses que cobiçava aquele abajur. Primeiro, foi a morte da mãe, o dinheiro guardado teve de ser gasto com o enterro. Segundo foi o carro, estragou a bateria e daí ficou endividado. Terceiro foi o “curso de capacitação de gestores produtivos engajados”, ideia do chefe da repartição. Estava com o almoço contado a partir de então.
Dois anos e sete meses que Roberto havia reparado no abajur no canto esquerdo da salinha de antiguidades da loja de decoração na avenida principal que liga a área norte à área sul.
Roberto passava todos os dias ali. Exceto aos sábados e domingos. Sábado ia ao cinema. Domingo à missa. Sozinho. Desde da morte da mãe não se relacionara com mais ninguém. O abajur seria um presente pelos sessenta anos que ela completaria na sexta próxima, pensava na época. Mas o câncer não esperou a data e a levou na segunda. Decidiu que ia dar assim mesmo. “Ela vai ficar contente, esteja aonde estiver”, comentou para si.
A entrega dos diplomas do “curso de capacitação de gestores produtivos engajados” acontecera no sábado e Roberto não pode ir ao cinema naquela noite. Quando na segunda, indo para o seu trabalho passou pela loja de decoração, lembrou que não tinha conferido se o cartão do banco estava na carteira, não adiaria mais a compra do abajur.
O cartão estava na carteira, mas o sinal não estava verde e o caminhão não conseguiu desviar a tempo. No dia seguinte as manchetes ilustravam um carro todo destruído, um corpo caído no asfalto e o motorista do caminhão sem entender porque um moço tão equilibrado e pacato, como assim descreveram os colegas de serviço, pudera cometer esse ato de suicídio:
- Parece que ele não tinha superado a perda da mãe...

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Contos, Romances e Peripécias: "A Prática"

Decidi que quero mais da minha vida. Decidi que vou escrever uns continhos aqui, umas poesias ali e assim por diante.
Por enquanto começarei com esse texto, que ainda não sei bem aonde encaixá-lo na literatura... hunpf...
Mas, espero que degustem sem moderação!

A prática

Quando pensava na vida no alto dos meus 15 anos, pensava no quanto a mocinha era trouxa em ficar com o mocinho. O vilão era tão mais galante, poderoso e... lindo, que mocinho nenhum valia a pena.
Eu não sabia, mas estava desenvolvendo meu lado esperto naquela época. A partir daí, a praticidade se tornou parte de mim. Eu era prática em tudo.
Se a conta dava 29, eu dava 30 e ficava por isso mesmo, sem troco. Se não havia sorvete de baunilha, me dava de creme que já estava ótimo. Se o namorado não queria sair comigo naquela noite já o mandava catar coquinhos e ligava para minhas amigas para sairmos juntas.
O problema foi quando me dei conta de que estava vendo mais plantão de notícias do que seriados.
Percebi que estava ficando velha, sem dinheiro, sem namorado e não estava fazendo as coisas de que gostava. Ser prática havia me enrijecido.
Dizem que velho fazendo coisas de jovens se tornam ridículos... Daí passei de jovem, bonita e despojada para velha, feia e ridícula.
Ops! Velha, feia, ridícula e feliz.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

O Avanço do POVO


Capa da Istoé de setembro de 2010, inspiração para esse post (observem o grifado em amarelo*)

Intenções é com cê-cedilha.
Avalanche é com cê-agá.
Avalanche de intenções de votos* é com o povo.
O povo decide tudo. Decide quem ganha a presidência, quem ganha o big brother, quem ganha os mantimentos doados para as vítimas da tragédia que se abateu na região serrana do Rio.
Só não decide se é hora de chover ou não. Aliás, o tempo está preto por aqui... Será que chove?
O povo não tem dinheiro para se alimentar bem, pois o arroz integral está custando os olhos da cara. Mas os olhos da cara do povo estão com os óculos escuros da moda. Aqueles tipo besourão.
O povo não dá conta de tantas contas. Mas o celular do povo dá conta de ser mais avançado que a internet lá de casa.
O povo é estranho...
O povo não descansa. Tira o dia para lavar roupa.
O povo não almoça. Come para sobreviver.
Mas o celular... é aquele lindo, de cor metálica, brilhoso, branco, azul, rosa, com painel touch screen, wireless, WI-FI... E o povo? Ah sabe lá se o povo entende pra que serve essas funções!  
Nem os fabricantes sabem... Que dirá o povo...
Na verdade, o povo anda meio desligado de suas funções. O povo nasceu para seguir uns mandamentos, viver sua vidinha confortavelmente e morrer tranquilamente num leito de hospital. Mas cadê o hospital? Ah é! Tinha me esquecido de que a avalanche (com cê-agá) de terras (com erre duplo) destruiu qualquer hospital que tivesse perto do povo. Destruiu as casas, os barrancos, os casebres, os chalés, mansões do povo. Ops! Mansão é de rico. Povo não tem mansão e nem chalé. Povo no mínimo tem umas paredes com um telhadinho e olhe lá se não for telhadinho de palha...
Mas o povo decidiu que quer ser rico também. E a função do povo deixou de ser respeitada. O povo se rebelou e foi parar na presidência. Mas o povo já saiu e deu lugar à uma pova... hehehe
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
E agora, Drummond?
E agora, Lennon?
E agora, Mari?
Agora vou me embora que meu tempo de almoço acabou e minha criatividade também!
Beijões!!!

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Pega a Faca e Mata!




Quem é o primeiro?

Imagem tirada do Blog Coletivo V.I.D.A onde a defesa pela vida animal é a principal causa da sua existência.
Por favor, vamos parar com essa carnificina! Os animais (incluindo nós) pedem SOCORRO!

Um beijo sabor laranja e até mais!
Paz!

domingo, 16 de janeiro de 2011

Poesia dos Livros (Please don’t leave me)

Post criado por uma pessoa sem senso do ridículo ouvindo a música da Pink: Please don’t leave me. (isso que dá ficar o domingo navegando na net!)

Poesia dos Livros

Olha a paixão batendo na porta, querendo entrar a força, querendo arrancar toda a sua roupa, querendo lavar a alma.
Olha o amor saindo pela janela, atravessando o jardim, pegando o ônibus e sumindo pela viela.
Quando fecho minhas pálpebras só penso no que não posso ter. No que está fora do alcance. No que não se encontra em nenhum dos livros da estante.

Por favor, saia da prateleira.
Por favor, não se esconda entre as capas neutras.
Estou em busca dessa trilogia há muito tempo.
Então, não se faça de conto, crônica ou texto.
O lugar das suas folhas é entre os meus dedos.

Venha entreter por mais de uma semana meus fracos olhos, que agora tentam ler seus pensamentos.

Mas o amor saiu pela janela, lembra?
Tudo bem. Ainda tenho a estante e os livros.

Contudo...
Por favor, não me deixe.

Bye-bye!
Beijo na bunda, até segunda!

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Morte à Tragédia

“Mas nos deram espelhos e vimos um mundo doente...”
(Renato Russo em Índios)


Vendo o caos que se tornaram as cidades do Rio de Janeiro nesses últimos dias, me pergunto o que torna uma pessoa com mais sorte do que outra?
Se quem morava em casa de construção boa também sofreu danos tanto quanto quem morava em encosta, o que nos dá certeza então de que estamos seguros nessa vida?

Tantos sonhos enlameados ladeira a baixo.
Tantos braços ficaram sem abraços.
Tantas despedidas sem acenos.
Tantas feridas em corpos pequenos.

O que será dessa Terra, meu Pai?
Porque ainda temos a estrutura fragmentada de nossos acertos? Nunca parece ser o que é. E de caquinhos em caquinhos a gente cola o país...
 Vou parando por aqui. Não tenho mais o que comentar a esse respeito.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O que é um querer?

Se antes eu queria ter apenas 12 anos, e agora que tenho 10 a mais quero voltar aos meus 12, o que faz do querer uma regra de convivência?
Antes desse post queria apenas beber água e tirar um cochilo. Mas agora, quero editar filmes e ganhar Oscar’s por isso.
Quero um corte de cabelo moderno.
E também quero um jabuti.
Quero um papagaio.
Quero um filho.
Quero um marido também.
Pensando bem, quero mais filhos.
E não quero um marido.
Quero uma internet melhor.
Um alicate melhor.
Um desejo maior.
Um peito maior.
Uma boca maior.

O que é um querer diante das possibilidades das desordens da vida? É um foco, um sonho, ou um estado?
Se quero agora, quero amanhã e no dia seguinte?
Ou será que o querer tem dia para acontecer?

Se quero da chuva apenas os pingos d’água, o que fazer com os raios e trovoadas?
Aliás, por que não querer também os raios e as trovoadas...
E assim, quero tão perto e tão grande que os passos não cabem dentro do compasso.

E o que sobra então desses tantos, é a saudade de quando queria ter apenas 12 anos.

Beijinhos

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Jó 05

“Em seis angústias, te livrará; e na sétima, o mal não te tocará”.
(Jó 05,19)

Quando passamos por aflições, geralmente recorremos à nossa mãe, a um parente, a um amigo ou no Ser Espiritual em que cada um acredita... Passei por uma aflição como muitos já devem ter passado e recorri a Deus, entidade pela qual tenho fé e que às vezes acho boa demais para comigo...
Nesse post, compartilho uma passagem da Bíblia Sagrada Edição Pastoral (SOCIEDADE BÍBLICA CATÓLICA INTERNACIONAL e PAULUS - 1990).

Sinto que a bíblia em alguns momentos não parece ser algo confiável, já que é uma Escritura Sagrada, mas editada por homens. Porém nesse caso, me sinto confortável para dizer: eles (os homens com a sua edição e Deus com o seu Sagrado) me ajudaram e muito!

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5 De onde vem a desgraça? - 1 Grite, para ver se alguém lhe responde. A que anjo você vai recorrer? 2 Porque o despeito mata o insensato, e a inveja causa a morte do imbecil. 3 Vi um insensato lançar raízes, e num momento sua casa foi amaldiçoada. 4 Seus filhos estão longe de prosperar, são esmagados sem defensor no tribunal. 5 O faminto devorou as colheitas dele, o sedento sugou-lhe os bens. 6 A miséria não nasce do pó, e a fadiga não brota da terra. 7 E o homem gera seu próprio sofrimento, como as faíscas voam para cima.

Recorrer a Deus - 8 Em seu lugar, eu recorreria a Deus, e poria a minha causa nas mãos dele. 9 Ele faz coisas grandiosas e incompreensíveis, e maravilhas sem conta: 10 dá chuva para a terra, e rega os campos, 11 levanta os humildes, e concede prosperidade aos abatidos; 12 malogra os planos do astuto, para que as manobras deste fracassem; 13 apanha os espertos na astúcia deles, e desmonta as tramas do velhaco. 14 Em pleno dia, todos esses caem nas trevas a ao meio-dia tateiam como se fosse noite. 15 É assim que Deus salva da língua afiada o pobre, e da mão do poderoso o necessitado. 16 Desse modo, o fraco tem esperança, e a injustiça fecha a boca. 17 Feliz o homem a quem Deus corrige. Portanto, não despreze a lição do Todo-poderoso.
18 É Deus quem fere e cura a ferida, quem golpeia e cura com sua própria mão. 19 Ele é quem liberta você de seis perigos, e no sétimo o mal não mais o atingirá. 20 Em tempo de fome, salvará você da morte, e na guerra o protegerá do golpe da espada. 21 Você ficará a salvo do flagelo da língua, e não temerá quando a ruína chegar. 22 Você rirá do desastre e da fome, e não temerá os animais selvagens. 23 Você fará aliança com os espíritos do campo, e viverá em paz com as feras. 24 Você terá prosperidade em sua tenda e, visitando sua propriedade, verá que nada falta. 25 Terá descendência numerosa, e seus filhos serão como erva do campo. 26 Descerá ao túmulo em avançada velhice, como feixe de trigo colhido no tempo certo.
27 Veja bem! Observamos tudo isso, e é coisa certa. Escute bem, e faça bom proveito.

>>>

Esse é o capítulo 5 do livro de Jó onde é mostrada a intervenção de Elifaz. A lenda, termo como é referido na própria bíblia (o que eu achei demais!) diz que Jó é um cristão que passa por muitas coisas ruins, ruins mesmo!!! Mas, ainda assim tem a fé inalterada. Suas aprovações é uma ideia vinda da parte de Satã, nesse caso, ele não é aquele anjo caído de que todo mundo fala. Ele é uma espécie de investigador e quer provar para Deus que seu filho só lhe é grato porque tem tudo: saúde, bens materiais, família, amigos... Se tirarem isso, com certeza ele mostrará a verdadeira fé. Deus concorda num primeiro aspecto de tirar tudo dele na questão dos bens. Satã lhe tira até os filhos... Mas Jó rasga as suas roupas e diz que tudo o que tem foi Deus quem lhe deu e Ele tem a autoridade para tirar.
Satã volta novamente a Deus e diz que é preciso agir com mais radicalismo. A questão agora é a saúde... Deus lhe diz: tudo bem, mas desde que poupe a vida de Jó.
Daí em diante, a desgraça só continua a aumentar...

Porque Deus permite isso? Até o próprio Jó - depois de tanto insistir em ter um encontro com Deus para lhe dizer que ele era inocente e podia provar que não tinha nenhum pecado - não conseguiu obter nenhuma resposta. Que complexo, não?
Na explicação do rodapé temos acesso a muitas informações...
Dentre elas, quero destacar essa:

“Leviatã, muitas vezes representado pelo crocodilo, é propriamente um dragão mítico, que simboliza o poder do mal que ameaça a criação. Deus o teria derrotado, confinando-o na água. O desafio que Deus propõe a Jó é gigantesco: você seria capaz de dominar o mal, como eu dominei? Por trás disso, há um convite para o homem reconhecer as próprias limitações e, a partir delas, confiar no Deus que é capaz de controlar tudo”.

Não estou aqui querendo fazer uma apologia ao que eu acredito. Até porque, já acreditei em várias coisas: entidades, amigos, namorados, papai Noel... E esse negócio de “crer” é muito relativo. Mas, de certa forma, também estou querendo fazer uma apologia. Afinal, como o revela o ditado popular: cada um que defenda o seu, neguim!
E a voz do povo, é a voz de Deus...

Agora deixem-me ir que esse papo já está ficando piegas demais!

Inté!

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Sinto que sou uma abelha bem maior!

Olha como a chuva cai
E molha a folha aqui na telha
Faz um som assim
Um barulhinho bom
(trecho de “Chuva no Brejo” de Morais Moreira, intéprete Marisa Monte)

Não sei ao certo o que corrompe as pessoas. Se são os plocs plocs de seus sapatos ou os tic tac’s de seus relógios, que no ritmo frenético do pulsar da vida esquecem-se de desperta-los para a hora do abraço.
Às vezes o beeinnhh da campainha nos traz boas notícias, mas outras o tum tum do coração precisa ser mais forte para agüentar o baque das más.
Às vezes os slips shuis das chaves na ignição parecem ser bem mais complicados de conseguir quando se está ansioso de mais para ver alguém.
Ou às vezes o vrummm do carro desse alguém parece nunca ter começo na dobra da esquina.
Não sei ao certo o que conserta as pessoas. Se é o plac plac das palmas ou o úúúhhhh das vaias, que no anseio da vitória ou na vergonha da derrota definem as máscaras de cada um.
Mas sei que de todo o zum zum que meus sonhos já ouviram, o seu assobiar é o que mais me distrai...
 
Um psiuuuuu a todos e até breve!

domingo, 9 de janeiro de 2011

O cão da rodoviária


Por esses dias, estava voltando do meu serviço quando me deparei com um cachorro estendido quase que no meio da rua. Sabe esses cães de beira de boteco, pequeno, branco com manchas pretas, com um pêlo bem velhinho? Pois é, o cão da nossa história é assim.
Eu (com certeza) não pararia se fossem outros tempos. Mas tenho mudado muitas atitudes. Atitudes que considero erradas, egoístas ou desagradáveis. Eu teria dó, como tive, mas seguiria em frente. O que (com certeza também) me traria muito sofrimento, pois me arrependeria de não ter ficado e ajudado de alguma forma.

Pois bem. Eu não segui meu trajeto.

Eu fiquei e observei-o por um tempo. Sabia que esse era o começo da minha nova atitude tomada. Mas não podia ficar ali sem fazer nada por muito tempo. Perguntei a um motorista parado na calçada do outro lado se o cão havia sido atropelado. Mas ele não sabia ao certo o que tinha acontecido.
A partir daí, uma revolução se iniciou.

De repente, um senhor apareceu para ajudar. Disse que conhecia o cão. E eu conhecia o senhor. Ele já havia viajado junto comigo. E ali mesmo, quase no meio da rua, ele massageou toda a região em volta da barriga do cachorro. Tiramo-lo dali e o colocamos na calçada.

Uma moça com uma garotinha surgiu do nada e perguntou se ele havia sido atropelado. A mesma pergunta que eu havia feito antes! E ela obteve a mesma resposta que eu também: não sabemos ao certo o que aconteceu...

Uma mulher parou o carro e veio até onde estávamos para saber o porquê de uma aglomeraçãozinha perto da rodoviária. E deu de cara com um cachorro indefeso estendido no chão e um senhor lhe massageando a barriga em busca da sua alma.

Logo depois, um rapaz apareceu e ficou observando a cena.

E o senhor, não parava de massagear!
Num determinado momento, o senhor que havia nos dito que o cão devia estar apenas com uma convulsão, disse dessa vez que se déssemos água ao animal ele melhoraria. E não é que a moça com uma garotinha estava com uma garrafa d’água (dessas de 500 ml) na mão! O cão bebeu um pouco da água que empurramos à força goela a dentro...

Conversa daqui, palpite de lá, o senhor achou melhor cobrir o cão com jornal para não passar frio. E assim, ele foi.
Enquanto isso a grã-fina do carro pegou uma agenda e um celular e começou a telefonar atrás de algum veterinário. O rapaz que havia se aproximado e até então, só vinha observando a situação se agachou e continuou a fazer os mesmos movimentos que o senhor estava fazendo antes de ir buscar os jornais. Nessa altura do campeonato, a moça com a garotinha já havia ido embora, levando pela mão a menina que ficava perguntando: ele vai morrer? Ele vai morrer?

O senhorzinho trouxe os jornais e logo tratamos de acomodar o cão embaixo de uma árvore. Quando estávamos colocando os jornais em cima do bicho, ouvi a grã-fina comentando com a carona do seu carro: - eu colaboro com 10 reais...
Ela não conseguiu falar com veterinário algum, mas se conseguisse, com certeza daria a ideia de fazermos uma “vaquinha” para passar o cão numa consulta. Então, ela me surpreendeu com um gesto nobre. Tirou do banco de trás de seu carro um bolerinho rosa e colocou em cima dos jornais que estavam esquentando o bendito cão. Dessa forma, ele ficaria mais quentinho.

...

Já no terminal, dentro do circular que ia para a minha casa não conseguia mexer a minha mão direita... Foi com ela que agradei quase todo o tempo o cão da rodoviária. Eu a havia lavado, mas ainda estava com aquele cheiro de cachorro molhado. Tenho problemas com mãos sujas. Mais precisamente, as minhas. Faço um ritual praticamente toda noite antes de dormir: escovo os dentes, lavo as mãos, faço xixi, lavo as mãos, bebo água, lavo as mãos. E se por acaso no caminho entre apagar a luz da sala e deitar na minha cama no quarto ao lado, aparecer algum motivo pelo qual eu sinta que minhas mãos precisam ser lavadas... Não tenham dúvidas! Lá estarei eu: lavando as minhas mãos novamente...
Imaginem o quanto foi difícil então, os quase 15 minutos que leva do terminal até a minha casa... Eu já a sentia formigando...

No quarto, com as minhas mãos limpinhas e cheirosinhas pude refletir melhor sobre o que tinha acontecido naquele fim de tarde. Eu mudei uma atitude e consequentemente as pessoas mudaram as delas. Penso no que aconteceria caso eu não parasse... Será que aquela mobilização de ajudar o cão aconteceria independente da minha atitude? Ou será que aconteceu a ajuda ao cão porque eu me mobilizei?
São questões que não serão respondidas por que simplesmente não existem respostas. Como saber o que está reservado atrás das cortinas, se por enquanto o palco é a única coisa que temos? Como saber se haverá 10, 100 ou 1000 pessoas na platéia? Só começando o espetáculo para sabermos!

E por incrível que pareça ser, cada um ali tinha um papel a representar na trama. O senhorzinho e sua massagem angelical, a moça com a garotinha e sua garrafa d’água, a grã-fina com seu celular e seu bolerinho rosa, o rapaz e seus olhos de águia e mãos de santo. Eu... Eu não sei o que fiz de bom para aquele cão. Sei que parei e apenas tentei lhe ajudar. A única coisa que pensava enquanto acariciava seus pelos velhos e úmidos era que Deus se compadecesse da sua mísera situação e lhe poupasse a vida.

Mas não sei por quanto tempo mais Deus vai lhe poupar a vida... O cão está com pneumonia. Ele não come, não bebe e só fica deitado num canto perto do ponto dos taxistas. Fiquei sabendo isso dois dias depois em que passei pelo local voltando (como sempre) do meu serviço. Eles haviam internado ele, mas o veterinário disse que não podia fazer mais nada. O cão da rodoviária (da rua, do senhorzinho, meu, seu, nosso) havia tomado muita chuva na vida e sua resistência imunológica já não era tão resistente assim...
Até hoje, não sei se está vivo ou se está morto.

Por isso, darei o meu desfecho.
Ele está vivo... No céu dos cachorros. Lá ele caminha sem se preocupar com carros, moleques e doenças. Nunca sente fome, pois sempre tem comida para lhe satisfazer. Ele tem amigos. Brincam de correr, de se morderem e outras coisas que cães fazem por aí... Enfim, ele seria totalmente feliz...!

Kisses! Inté!

A chuva, a pomba e eu ☺

Dizem que sexto sentido de mãe não falha. Mas creio que o da minha mãe deve estar quebrado há muito tempo. Hoje, ao sair de casa para o trampo, perguntei a ela se deveria levar um agasalho já que com esse tempo louco que tem feito ultimamente, chover está se tornando um hábito. E ela respondeu: - Não. Não leva não, que você não vai precisar.

Ah... Doce ilusão! Realmente eu não precisei. Até as 16h55 de hoje. A chuva me pegou entre a escola e a rodoviária. No meio da praça. Mais 2 minutos e eu estaria a salvo, mas não! Ela resolveu me sacanear bem ali entre bancos e árvores! Ok. Confesso que se não tivesse gastado 2 minutos para ir até a biblioteca da escola onde trabalho, para pegar um exemplar de Lygia Fagundes Telles e dois de Índigo (duas autoras que conheci recentemente) teria dado tempo de chegar à rodoviária antes da chuva maledeta.

Não que eu não goste de um tempinho gostosinho de chuva. Amo! O que não suporto é ficar molhada. Ou melhor, 3 horas molhadas! 2 minutos que me perseguiram por 3 horas... Putz. Agora entendo o que querem dizer quando nos avisam de que uma escolha muda tudo.

Bem, não bastasse isso, ainda havia uma pomba estranha a me olhar de esgueio dentro da 2ª rodoviária do dia (no total passo por três na ida e mais as mesmas na volta). Ela me encarou fixamente por quase 1 minuto... Pensei: você só pode estar querendo me sacanear também!
Mudei de lugar. Fui para um banco mais distante. Se ela queria minha chipa de queijo, ela que fosse ao supermercado comprar. Mas é óbvio que ela sendo uma pomba, e ainda mais, uma pomba estranha, jamais entraria num supermercado, pesaria uma chipa de queijo, ficaria na fila do caixa por mais de 10 minutos, pagaria a sua compra e ainda diria “obrigada eu” para a moça do caixa... Todos ficariam boquiabertos com a cena!

Pois não é que a danada veio atrás de mim. Bastou uns segundos sentada ali para ela ir se aproximando como quem não quer nada com aquele pescoçinho remexendo pra lá e pra cá. Pensei: puta merda. Tanta gente querendo ser observada por uma pomba e ela escolheu logo eu para observar? Eu só queria comer minha chipa de queijo em paz.
Ela ainda me olhou por um tempo. Percebi que algo a estava incomodando. Ela se retirou e foi para a margem da calçada da rodoviária. E lá ela despejou o que estava lhe incomodando... Isso mesmo! Um cocozinho esverdeado. Pensei: que pomba educada! Não fez na minha frente, pois eu estava comendo.

Depois disso a pomba estranha e educada seguiu com a sua vida e eu segui comendo minha chipa de queijo. Finalmente! Podia sentir agora o real sabor daquela massa calórica. Hummm... E gostosa!
Apesar das desavenças entre eu e a pomba estranha e educada sentidas apenas pelo olhar de cada uma, ela me fazia falta! Aqueles míseros minutos juntas foram o suficiente para entrelaçar nas nossas almas um efeito de preenchimento que só depois da sua partida pude notá-lo. De certa forma, ela compreendia tudo o que estava se passando comigo naquele momento. Eu estava com as minhas roupas molhadas, como o cabelo horrível, com uma fome lascada e sem ninguém para desabafar... Meu Deus! Por isso ela se identificou comigo. Filha da puta. Ela conseguiu me sacanear.
Tudo bem. Sem ressentimentos. Mesmo eu parecendo uma pomba, não ia descer do salto e brigar com ela. Mas a minha vontade era dizer: eu estou no topo da cadeia alimentar e você?

Não. Não sou esse tipo! Sou vegetariana inclusive... Só não gosto que pombas estranhérrimas me sacaneie, pô!

O ônibus chegou, eu entrei, sentei, e assim seguimos para a última rodoviária do dia. Certifiquei-me de que a pomba não nos seguia. Ela permaneceu lá, a espera de mais alguma vítima. Depois de 1 hora cheguei ao meu destino final. Mais alguns minutos e estaria em casa, no chuveiro tomando um banho quentinho. Ou seja, o dia terminou bem. Eu consegui sobreviver sem nenhuma cicatriz profunda! =D

Gigabraços! Inté!