domingo, 30 de janeiro de 2011

Contos, Romances e Peripécias: “A Ex-Amiga”

No baile daquela noite, Magda sabia que por mais que seu vestido fosse bonito, Terezinha daria um jeito de se sobressair mais do que ela. A ex-amiga era muito invejosa e desde a briga na 8ª série, nunca mais trocaram uma sílaba se quer. Uns diziam que a discussão foi por causa do Matheus, alguns que foi por causa da última esfiha da cantina, outros que foi por causa da “Barbie sandália vermelha top fashion”.  Mas ninguém suspeitava certo sobre o que havia rompido aquela amizade naquela manhã de março.
Terezinha estava de esmalte pink no baile. Magda riu à grande quando viu a breguice da ex-amiga.
- Eu sabia que ela ia dar um jeito de chamar a atenção mais do que eu!
- Por que ela veio de vestido balonê laranja purpurina num baile de traje esporte-verão?  disse Terezinha à atual melhor amiga Verinha. “Deve estar querendo chamar a atenção...” concluíram as duas. Após as três da manhã, quando quase todos já haviam ido embora, Carlos convidou Magda para dançar. Arrependeu-se depois, pois a garota não parava de falar duma tal aí com esmalte pink.
- Você não quer ir lá em casa amanhã conhecer meus cachorros? Eles iriam gostar de você, o Teddy tem um focinho achatado...
- Na boa gata, não dá. Amanhã tenho capoeira a tarde toda e a noite campeonato de paciência com a turma da informática. Minha agenda ta lotada.
Deu um beijo no rosto de Magda e saiu quase que fugindo das garras da moça que outrora ele estava implorando para dançar coladinho.
Magda perdeu o bom moço daquela noite, perdeu as amigas novatas, o respeito dos pais e a atenção das pessoas com quem de vez em quando conversava, no ponto de ônibus, na fila do supermercado, do banco, tudo porque seu assunto se baseava somente nas últimas novidades da ex-amiga Terezinha.
- Ela tem inveja de mim. Faz de tudo pra chamar a minha atenção.
Quando concluiu a faculdade de medicina, Terezinha levou um susto ao ver seu carro novo riscado de fora a fora com as palavras “Médica de Corvo”. Do outro lado da rua, atrás duma árvore qualquer, Magda se debulhava em lágrimas enquanto o filho de três anos pedia colo.
- Ela roubou o meu homem, a minha faculdade, mas o carro não. Quieto, moleque! Quer que ela nos veja aqui?
Na delegacia as duas ficaram cara a cara.
Terezinha depôs primeiro:
 - Olha, há sete anos foi o meu carro. Depois o muro de casa, o do consultório, do sítio da minha mãe. Quando ela não tinha mais o que pichar, começou a mandar cartas me ameaçando. Ignorei. Mas daí ela tentou sequestrar meu filho.
- Louca, vadia! Eu não quero seu filho porco, nojento, não! Eu tenho um filho maravilhoso, que me ama, idolatra...
- Claro, e que preferiu ir morar com o pai a você.
- Cala a boca sua piranha de esquina, que da minha vida cuido eu! Seu Delegado quando nós éramos ainda amigas eu disse a ela que queria ser médica e casar com Otávio Belmont, um paquerinha duma prima na época. Pois essa filha duma égua roubou os meus sonhos e...
- O que? Quando disse isso? Você só falava da sua prima Rebeca. “Ah porque a Rebeca comprou uma mochila maior que a minha, porque a Rebeca não rezou o terço direito, porque a Rebeca ganhou todos os broches da vovó”. Uma verdadeira obsessão. Só parou de falar nela quando por infeliz obra do destino ela morreu doente sei lá do que.
- Foi o corvo! O corvo! O corvo que seu tio criava. Você sugeriu “porque não a assustamos?”, ela morria de medo de corvos. Mas eu não imaginava que ela ia dar aquele chilique todo. Achei que ia passar. Só que foi piorando, piorando, até que entrou em coma. E morreu. Morreu naquela manhã de março. Eu pedi a você que fossemos no cemitério quando ele tivesse vazio para pedirmos desculpas a ela. Você se recusou, me chamou de boba e disse que não sentia nenhuma dor na consciência.
- Eu não tenho dor na consciência. E essa é só mais uma estória que você conta tentando me atingir...
            A briga que tomou espaço na delegacia naquela noite mandou Terezinha para a sua casa pomposa e Magda para uma casa de reabilitação emocional. Depois de alguns meses o auxiliar de enfermagem veio informar à Magda que havia uma visita lhe esperando.
- Deve ser o Rafa, meu filho.
            Mas não era.
            Magda entrou pelo pátio, desceu as escadas, virou à esquerda e deu de frente para uma mesa com cadeiras em volta, na qual em uma delas jazia uma mulher sentada. Não pode acreditar.
- Você?
- Sabe o que dizem dos corvos? Que trazem maus presságios... Eu ganhei uma promoção. Serei chefe da minha área. O Otávio comprou as passagens para o cruzeiro comemorando nossos 20 anos de casados. Nosso filho semana que vem começa o curso de direito. Minha vida está perfeita! Sabe Magda, não acredito que os corvos trazem maus presságios. A Rebeca deu azar...
            Quando ia saindo, Terezinha já com os óculos escuros vestindo os olhos de quem já viu muita coisa, virou-se e arrematou:
-E também, ela e o Otávio nunca iam dar certo mesmo.


2 comentários:

  1. Uau! Que megeras...

    Mas a história é ótima, não esperava nada menos vindo da senhorita! Fico pensando em quando vamos fazer cinema juntos sabia? Huhauhauhaa.

    Espero que logo, um beijão! XD

    ResponderExcluir
  2. Eu também espero que seja logo!!!

    Mas essa história me deixou de cabelo em pé, foi difícil descobrir o final dela... Creio que dei o fim que cada uma merecia.

    O mundo é dos espertos, afinal!

    Infelizmente.

    Beijos!

    ResponderExcluir

Fala meu povo!