Mais um continho para vocês degustarem...
Roberto não sabia se entrava na loja naquela hora ou depois do almoço quando estaria com mais tempo. Já haviam alguns meses que cobiçava aquele abajur. Primeiro, foi a morte da mãe, o dinheiro guardado teve de ser gasto com o enterro. Segundo foi o carro, estragou a bateria e daí ficou endividado. Terceiro foi o “curso de capacitação de gestores produtivos engajados”, ideia do chefe da repartição. Estava com o almoço contado a partir de então.
Dois anos e sete meses que Roberto havia reparado no abajur no canto esquerdo da salinha de antiguidades da loja de decoração na avenida principal que liga a área norte à área sul.
Roberto passava todos os dias ali. Exceto aos sábados e domingos. Sábado ia ao cinema. Domingo à missa. Sozinho. Desde da morte da mãe não se relacionara com mais ninguém. O abajur seria um presente pelos sessenta anos que ela completaria na sexta próxima, pensava na época. Mas o câncer não esperou a data e a levou na segunda. Decidiu que ia dar assim mesmo. “Ela vai ficar contente, esteja aonde estiver”, comentou para si.
A entrega dos diplomas do “curso de capacitação de gestores produtivos engajados” acontecera no sábado e Roberto não pode ir ao cinema naquela noite. Quando na segunda, indo para o seu trabalho passou pela loja de decoração, lembrou que não tinha conferido se o cartão do banco estava na carteira, não adiaria mais a compra do abajur.
O cartão estava na carteira, mas o sinal não estava verde e o caminhão não conseguiu desviar a tempo. No dia seguinte as manchetes ilustravam um carro todo destruído, um corpo caído no asfalto e o motorista do caminhão sem entender porque um moço tão equilibrado e pacato, como assim descreveram os colegas de serviço, pudera cometer esse ato de suicídio:
- Parece que ele não tinha superado a perda da mãe...
Caramba Mary que texto maravilhoso! Gostei de mais! Já te disse que tens futuro? Se não disse digo agora. TENS FUTURO GAROTA!
ResponderExcluirEspero outros como este hein!
Um beijão!
Valeu Homenzinho! Tentarei, mas não garanto que vão sair bons. Esse caminho literário é complicado, inspiração não me falta, mas já o tempo... Hunpf, esse está escasso! Um cheiro!
ResponderExcluirTe desejo que para isso sempre arranje um tempinho! Beijão!
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