quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Tempos Indeterminados



Catarina: Acha mesmo isto justo?
André: Não é dos males o pior...
Catarina: Eu lhe ofereci tudo. Dei os meus sonhos, as minhas angústias, os meus desejos, as minhas inquietudes, até mesmo as minhas risadas. Dei meu coração inteiro a você. Dei o que havia de melhor em mim. Confiei em você. E agora isso?
André: Ora, por favor, não venha querer me deixar culpado. Nós dois nos damos um ao outro. Eu também fui seu por inteiro.
Catarina: Mas não o suficiente, não é? Você fingiu tudo isso. Só para me conquistar, me ganhar por aí.
André: Não sejamos bobos, Catarina! Eu amei você, como nunca amei ninguém. Mas acaba. Essas coisas acabam. Não seja dramática, por favor. Podemos ser amigos, melhores amigos.
Catarina: Eu não quero essa sua amizade! O que eu quero é o seu corpo, as suas palavras, o seu jeito. O seu jeito de me amar.
André: Isto, eu não posso oferecer mais.
Catarina: Mas a ela, você pode oferecer, não é?
André: Não venha com esta história, novamente. Eu n-ã-o t-e-n-h-o o-u-t-r-a, entendeu?
Catarina: Como posso entender André? Numa hora você diz que é para sempre e na outra você diz para sermos amigos!
André: Eu nunca disse que seria para sempre.
Catarina: Ah não?
André: Não. Eu disse que lhe faria feliz, ok? Por tempo indeterminado.
Catarina: Como se amar fosse algo determinado...
André: Esqueça, Catarina! Eu já disse que acabou. Fim! Ponto final, certo? Siga a sua vida, procure novas possibilidades de romances, amores, sei lá. Se eu ficar vai ser por cobrança. Cobrança sua. Mas não vai ser por amor. E combinamos que se fossemos fazer isso, que seria somente por amor, lembra?
Catarina: Mas eu ainda te amo... O que faço com isso?
André: Eu não sei. Não me ensinaram o que fazer com isso também... Adeus.

Naquela noite, Catarina suspirou muitas vezes em meio a soluços. Procurou por respostas, mas não encontrou algo que acalentasse sua dor. Ela fugiu do amor tanto tempo, mas se entregou acreditando ser profundo, ser para sempre. Não suportava a ideia de conviver consigo mesmo, sem André por perto. Era inútil tudo. Tomou uma atitude, então.

Luiza: Mas será que ela vai ficar bem?
André: Ela vai saber superar.
Luiza: Eu não devia estar aqui. Não nesse momento. Mas no telefone você me disse que estava sentindo um vazio estranho... e... bom... é... Eu fiquei com medo de não poder te ajudar apenas por telefone. Certo?
André: Não precisa ficar sem graça, querida. Eu adorei sua visita.
Luiza: Gosto muito de você... Mas não queria magoar Catarina.
André: Impossível. Relacionamentos que não causam mágoas não podem ser considerados verdadeiramente como relacionamentos... Não é mesmo?
Luiza. É... Acho que sim.

Campainha.

André: Deve ser a pizza, finalmente.
Porta aberta:

André: O que faz aqui? Eu pensei que tivéssemos esclarecido tudo.
Catarina: Ficou uma coisa pendente...
André: O que é isto Catarina? Vai querer me matar agora? Abaixe esta arma!
Catarina: Interessante, não é? Você troca uma letra de lugar e “arma” se torna “amar”... Hummm... Vejo que você tem visitas.
Luiza: Catarina... Eu posso explicar...
Catarina: Cala boca, sua vaca! Enquanto eu produzia os eventos você ficava passeando com o meu marido, não é?
Luiza: Não!!!
André: Catarina, vamos conversar só nós dois, por favor! Ela não tem nada haver com isto, ok? E desde quando eu sou seu marido? Ponha juízo na sua cabeça, mulher!
Catarina: Três anos não é nada para você? Como não pode ser nada? Como você pode ser tão egoísta, assim?
André: Tudo foi maravilhoso. Deu certo por três anos... Mas teve um fim! Porque você não pode somente aceitar tudo isso??? Porque tem que agir assim?

Descompensado, ele reflete após um tempo:

André: Quer saber? Eu não me importo se você queira me matar. Mas mate de uma vez! Talvez morrer seja melhor do que ter que conviver o resto da vida com o que eu estou lhe causando...
Catarina: Oh, querido... Você me ama ainda, não vê? Me ama, sim... Me ama muito.
André: Eu amo o que nós tivemos. Foi lindo. Mas amar... Amar você... não é isto o que estou sentindo. Sabe o que eu sinto? É apenas um carinho... Um respeito... Um sentimento qualquer, mas não é amor. Agora eu estou sentindo pena, remorso talvez, por ter ido tão longe com nós dois. Eu nem sei mais. Mas não é amor. Era amor, certo? Mas não é mais.
Catarina: Ok...
André: Não, abaixe esta arma. Não comece de novo, por favor.
Catarina: Saia daqui Luiza! Isto é entre mim e ele. E ninguém mais. Saia porque eu não quero que veja isto. Não quero que compactue, ou que carregue esta lembrança.
Luiza: O... o... que vai fazer?
Catarina: Saia de uma vez!!! Ótimo. Somos só nós dois. Novamente. E para sempre...
André: Tudo bem, quer atirar em mim? Atire logo. Não suporto mais essa situação.
Catarina: E você acha que eu ia deixar assim tudo tão fácil? Acha mesmo que eu ia apenas matar você e ter que se lembrar disto infinitamente? Não, querido. Logo se percebe que você não aprendeu nada sobre mim...
André: Catarina, eu não sei o que você pretende, mas...
Catarina: Você ia se lembrar da gente como uma lembrança boa. Mas eu ia lembrar com dor. Você ia me cumprimentar tranquilamente, e eu ia querer decepar sua mão. Você ia ter outros amores, e eu ia me remoer de saudades suas... Vê? Eu não posso viver sem você. Porque você era o que havia de bom na vida. E sem você, eu não me suporto. Não suporto a ideia de ter conviver comigo sozinha... Sem você para me apaziguar, me tirar das sombras.
André: Por favor, Catarina. Pense que você irá encontrar outras pessoas, também. Que tudo dará certo. Que podemos suportar sim, tudo que está acontecendo! Agora é você que está sendo egoísta... Não quer dividir esta pessoa maravilhosa que você é com mais ninguém, só comigo!
Catarina: Obrigada... Mas não há outro jeito.

Dessa vez, amarga:

Catarina: Eu quero que você sinta essa dor também.
André: O que?
Catarina: A minha vingança desse amor inútil, é que ele não poderá apagar a sua memória a partir de agora... Eu me mato, André. Mas me mato com a certeza de que você irá se arrepender tardiamente dessa sua traição...
André: Eu não lhe traí!
Catarina: Traiu sim, traiu meus sentimentos! Disse que me faria feliz e agora me faz triste!
André: Vai passar... Por favor, não faça isso. Ok, você quer amor? Eu lhe amo, pronto. Agora tire essa arma da sua cabeça... Catarina, se matar não vai resolver nada. Não vai resolver a sua vida e nem a minha. Não faça isso comigo. Eu não tenho culpa de nada! E não é porque você quer que eu sinta que eu vou me sentir culpado, certo?! Abaixe logo, isto!!!
Catarina: Tudo bem. Você tem razão.

Mas antes que ela abaixasse por completo:

Catarina: Vai passar... A dor, o amor, o ardor. Vai passar... Mas por tempo indeterminado.

E num gesto mais rápido que o próprio discernimento de André, puxou o gatilho...
E se matou, ali mesmo. 


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